Previsões indigestas

Iniciamos hoje outra série, desta vez, sobre os impactos causados pela especulação vinda de fora do País

Às vésperas do início da safra do café, hoje começamos uma nova série voltada para a cafeicultura, quando vamos debater as consequências que estudos vindos de fora causam na economia do País.

Como base, vamos usar um relatório fresquinho, lançado no mês passado, pela empresa J. Ganes Consulting, especializada em análises de riscos climáticos, que avalia exclusivamente a extensão dos danos provocados pelo clima na produção de café Arábica no Brasil este ano.

Intitulado “Coffee In-depth Report” (em bom português, “Relatório detalhado do Café”), o estudo afirma, dentre outras coisas, que os efeitos da seca no Brasil são irreversíveis e a safra atual será seriamente prejudicada, menor do que o esperado e de baixa qualidade.

Além disso, o relatório faz projeções até 2017, e afirma que as próximas safras também serão afetadas.

Para começar, vamos citar os principais pontos desse estudo, e no decorrer dos próximos dias, faremos análises a respeito de cada um deles, suas falhas, seu caráter especulativo e suas consequências.

“Relatório detalhado do Café”, J. Ganes Consulting – Principais pontos:

1 - De acordo com o relatório, a seca no Brasil provocou efeitos irreversíveis na safra 2014, especialmente na qualidade das sementes de café, na parte interna e não externa do grão.

2 – Reflexos que serão sentidos nos próximos anos, quando as safras também serão afetadas negativamente.

3 - O estoque brasileiro nunca esteve tão baixo. E a qualidade do café também não, mesmo em situações similares, quando havia seca.

4 – O estudo não aconselha aos produtores iniciar uma colheita antecipada, já que o auto custo disso não pagará o baixo rendimento, o que não valeria a pena.

5 - A produção, que era esperada de até 60 milhões de saca, não deverá chegar nem a 50 milhões. E se chegar, será de baixa qualidade. As sementes ou grãos apresentarão cor amarelada com sinais de queimaduras, devido ao sol forte, até mesmo ficando com coloração preta/negra, mas os efeitos internos no grão serão maiores.

6 – Essas consequências atingem até 80% de toda a produção. Nunca na história fora registrada tamanha ameaça à produção brasileira de café. Os pesquisadores apontam que somente aqueles produtores com plantações irrigadas, que estão localizados no Cerrado mineiro, deverão sentir menos os efeitos, porém, ainda assim a qualidade deverá ser afetada.

7 - O estado de Minas Gerais representa sozinho 53% da produção brasileira de café Arábica, e o Espírito Santo, 13%. Juntos, os dois estados são responsáveis por 63% da produção brasileira.

Foto: Luis Alejandro Bernal